terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pictures Of You - The Cure

the cure love song

Everything by Lifehouse

(LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO)

Dar não é fazer amor.
Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria.
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais.
Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar.... Sem querer
apresentar pra mãe...Sem querer dar o
primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado e te molha o instinto...
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa....
Dar porque se você não der para ele hoje,
vai dar amanhã, ou depois de amanhã...
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar
ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro...
Dar é bom, na hora. Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio...
Dar é não ganhar. É não ganhar um "eu te amo"
baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos
da cidade parece querer te abduzir.
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa
notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer
coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor,
ameniza todas as crises e faz você flutuar.

Experimente ser amada!!!

domingo, 12 de setembro de 2010

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Os Amigos"

Os amigos amei
despida de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.

Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia"

"Os Erros"

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

"Che Guevara"

Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo [dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra
De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de [consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das [igrejas
Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Saudade"

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"EU"

(dedicado a quem me dedicou "À Espera de um Começo")

Não sou poeta/poetisa, nem tenho pretensões a tal. Vou tentar fazer o meu melhor!

Eu
Sou aquilo que sou,
sem subterfúgios,
sem mentiras,
sem hipocrisias,
Sou um vulcão,
ainda não, em erupção!

Espero o elevador que me leve ao patamar do amor!
Espero o ascensorista para me dar uma pista!
Sou apenas uma mulher que sabe o que quer!

Sou sentimental e espero pelo "tal"
que carregue no botão para ligar a ignição,
Temos piloto ou não ?!

Maria Lua

À ESPERA DE UM COMEÇO ... (Dedicado a mim)

Há um ciclone à solta,
Ventos agitados,
Dores gritadas na noite.
Um Sufoco!

O Vento rouba-me o ar.
Já respiro gotas de sofrimento!

Há um ciclone de emoções
Descontroladas,
Pensamentos de negação.

Tem
No meu caminho
Um fim à vista,
Uma emoção sem fim,
À espera de um começo!

Lisboa,07.09.10

Carissímos(as) ...

Caros anónimos(as) que frequentam este "espaço lunar", estou muito satisfeita com o rumo que este meu cantinho está a ter ... não só pelos conteúdos, mas também pela inteligência dos comentários que vão fazendo ... mas para este "sítio" poder ter um fio condutor e perceber quem é quem, mais que não seja pelo que escreve, e sob um qualquer pseudónimo, queria pedir-vos com toda a amizade e carinho, que me ajudassem neste campo, ao identificarem-se da forma que entenderem, desde que não "anónimos"! Assim, será mais fácil para mim comentar condignamente e ao mesmo tempo aperceber-me melhor da personalidade de cada um(a) que por aqui passa!
Muito obrigada.
Maria Lua

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"O Operário em Construção"

Operário em construção
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construcão.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Nao sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele nao cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que nao dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução

Como era de se esperar
As bocas da delação
Comecaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Nao vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martirios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construido
O operário em construção

Vinicius de Moraes
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

Ary dos Santos

DO VAZIO AO SILÊNCIO

Dedicado a Mim ...

Era o tempo das noites serenas e solitárias,
Do Vazio.
Era tempo sem tempo.
Há em todas as dobras do tempo
Que não vivo
Uma clepsidra lenta.
Grãos de areia derramados em tempos infinitos.
Tempos que não sinto,
Grãos flutuantes, sem peso.
Deslizam e arranham-me o peito.
Todas estas horas de espera,
Estes dias sem côr
Têm a tristeza das noites serenas e solitárias.
Há nesta solidão um vazio feito de abismos siderais
Mas também a resistência e a esperança
De virar as dobras do tempo para o sentir.
Abandonar a visão da clepsidra.
A esperança de voltar a perceber a côr dos dias,
Sem os contar um a um,
Sem que nenhum deles possa transformar-se na noite perdida no espaço
E me reduza ao silêncio.

Lx.01.09.10

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Inércia"

... é verdade é o que sinto sabendo que não sou escrava do despertador ... faço planos, adiados tantas vezes, e mais uma vez ficam por concretizar, por pura inércia ... preguiça, lanzeira, ... ainda preciso descansar ... para me poder voltar a cansar outra vez! É no silêncio que me recupero, é na solidão que congrego as forças necessárias para ter de volta a minha "força", a minha alegria, aquilo que eu realmente sou: um excesso, um extravazar de vida ... um vulcão em erupção e prestes a "explodir" e mostrar do que realmente é feita a sua massa!!!

Anseio pela minha energia ... sinto-a mais perto a cada dia que passa ... e para isso também contribuem as pessoas que sei, estão "perto" de mim, sem o estarem, mas sinto-as em pensamento, em espírito, com tanta intensidade que se torna real!!

Obrigada, vocês sabem quem são!
Bjs.
Maria Lua