sábado, 16 de outubro de 2010

Diário Dos Infiéis - CITAÇÕES INFIÉIS

«...Estamos indiferentes, em lugares distantes do mundo. A morte é um fim, mas a indiferença é um fim inacabado. É por isso uma agonia. Sabes, com o tempo acabei por esquecer como te amei. E como te amei, meu Deus! Com toda a loucura. Anulando-me por vezes, como se o meu coração ...não quisesse o meu sangue e apenas pulsasse por ti. Amei-te como nunca me amei. Que amor pode ser mais forte que isso?»

João Morgado... In: Diário dos Infiéis

Diário Dos Infiéis - CITAÇÕES INFIÉIS

Neste quarto pequeno para um amor sem fim
É que dispo o teu corpo Para o vestir de mim!

É que rasgo o olhar no bico dos teus seios
É que dispo meu corpo De dores e receios!

Neste quarto pequeno para um amor louco
É que dispo teu corpo Pouquinho a pouco!

É que encho teu ventre de amor em gume
É que dispo meu corpo Chispando teu lume!

Neste quarto pequeno para um amor profundo
É que nos despimos às cegas Para não ver o mundo!

É que de mãos trémulas e rouca voz
Nos despimos dos outros E nos vestimos de nós!

In: Diário dos Infiéis

Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen ‎, JOÃO MORGADO, in “DIÁRIO DOS INFIÉIS, Oficina do Livro, 2010

«...Os silêncios tristes fecham janelas dentro das mulheres. Até que se perdem dentro da sua escuridão como numa câmara escura em que se revelam. Perdemos uma mulher quando ela sai de dentro de si por uma porta diferente da que entrou. As paixões morrem por...que as mulheres fazem mil perguntas e nós, agitados, quase nunca sabemos as respostas certas...

"Devia morrer-se de outra maneira"

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ...ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão subtil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis...

Autor: José Gomes Ferreira...
(Roubado a Paula Simons)

sábado, 2 de outubro de 2010

Hino à Lua

Para que nasce o Sol
senão para anunciar a morte da Lua?

Os olhos cerram-se ao cair da noite.
As lágrimas não pretendem cair,
mas almas tristes não contêm
o choro pela Lua.

O dia pode nascer azul,
para quem sonha com os anjos…
rosa em dias perfeitos.
Mas o mar não se cansa de pedir
para que volte a nascer a Lua.

As palavras contam-se
infindáveis para quem ama.
A madrinha será certamente
uma esplendorosa Lua.

Trajes negros enfeitam as mentes
de quem vive o dia com sofrimento.
O choro pede-se
sentido e com muita alma.
O sacrifício é indispensável
para o retorno da Lua.

Amantes escondem-se
para sofrer em silêncio.
A noite faz parte do
dilema da existência:
beijar o Sol
ou venerar a Lua?

Corpos suados e cansados
estendem-se para morrer diante do Sol.
O renascimento
é indispensável… com a Lua.

Para que serve o pôr-do-sol
senão para anunciar o
regresso da bem-amada Lua?

B. Leston Bandeira

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pictures Of You - The Cure

the cure love song

Everything by Lifehouse

(LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO)

Dar não é fazer amor.
Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria.
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais.
Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar.... Sem querer
apresentar pra mãe...Sem querer dar o
primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado e te molha o instinto...
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa....
Dar porque se você não der para ele hoje,
vai dar amanhã, ou depois de amanhã...
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar
ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro...
Dar é bom, na hora. Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio...
Dar é não ganhar. É não ganhar um "eu te amo"
baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos
da cidade parece querer te abduzir.
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa
notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer
coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor,
ameniza todas as crises e faz você flutuar.

Experimente ser amada!!!

domingo, 12 de setembro de 2010

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'