segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

Ary dos Santos

2 comentários:

  1. Acrescentar alguma coisa ao Ary é quase crime, mas, já agora,"poeta original é capaz de despir a pele das suas emoções e partilhá-las em carne viva"

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  2. Caro anónimo,

    Concordo totalmente com a sua observação, sempre achei Ary dos Santos, um poeta muito "forte", "intenso", "corajoso" e especialmente pela "época" em que revelou ... gosto de pessoas que tratam "os bois pelos nomes"!
    Obrigada.
    Bjs.
    Maria Lua

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